Homenagem do Dia do Ator

Dia 19 de agosto se comemora o dia do Ator. O que dizer desse ser dotado de uma” loucura santa”, que nos fascina e encanta com seu talento durante tantos séculos? O mundo é claro, não deixará de existir se não houver mais atores. Ele pode e vai continuar sem nós. Mas eu gosto de acreditar que sem atores esse mundo não seria a mesma coisa. Quem com a mesma facilidade iria mostrar ao homem a sua face, as suas dores, angustias, alegrias e ainda algumas vezes apontar caminhos? O ator é o mago que possui esse poder transformador.

 

Plinio Marcos definiu o ator em um texto brilhante e pungente, tomo a liberdade de citar um trecho aqui: “Por mais que as cruentas e inglórias batalhas do cotidiano tornem um homem duro ou cínico o suficiente para ele permanecer indiferente às desgraças ou alegrias coletivas, sempre haverá no seu coração, por minúsculo que seja, um recanto suave onde ele guarda ecos dos sons de algum momento de amor que viveu na sua vida. Bendito seja quem souber dirigir-se a esse homem que se deixou endurecer, de forma a atingi-lo no pequeno núcleo macio de sua sensibilidade e por aí despertá-lo, tirá-lo da apatia, essa grotesca forma de autodestruição a que por desencanto ou medo se sujeita, e inquietá-lo e comovê-lo para as lutas comuns da libertação. Os atores têm esse dom. Eles têm o talento de atingir as pessoas nos pontos onde não existem defesas. Os atores, eles, e não os diretores e autores, têm esse dom. Por isso o artista do teatro é o ator. O público vai ao teatro por causa dos atores”. Sim, ele é a figura central desse jogo mágico. Alguns cientes de seu poder operam milagres em quem os assiste. Há um poema de Bertold Brecht chamado “Monologo de uma Atriz enquanto se maquila” que traduz de forma clara o que um ator, senhor de sua arte e pleno de suas potencialidades pode operar sobre uma plateia. Então deixo com Brecht nossa homenagem ao Ator:

 

Monólogo de Uma Atriz Enquanto se Maquila


Vou fazer o papel de uma bêbada

que vende os filhos

em Paris, nos tempos da Comuna.

Tenho apenas cinco réplicas.


E preciso de me deslocar, de subir a rua.

Caminharei como gente livre,

gente que só o álcool

quis libertar e voltar-me-ei

para o público.

Analisei as minhas cinco réplicas como os documentos

que se lavam com ácido para descobrir sob os caracteres visíveis

outros possíveis caracteres. Pronunciarei cada réplica

com a melhor acusação contra mim e

contra todos os que me olham.


Se eu não refletisse, maquilar-me-ia simplesmente

como uma velha beberrona

doente e decadente. Mas vou entrar em cena

como uma bela mulher que guarda a marca da distribuição

na pálida pele outrora macia e agora cheia de rugas

outrora atraente e agora repelida

pra que ao vê-la cada um se interrogue: quem

fez isto?

 

Mario Persico


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