Maria Alice Vergueiro recebe a Homenagem Lelia Abramo do SATED-SP

 

Por Jairo Maciel.

“Viver num mundo tão cheio de quebras, capitulações, deserções, omissões e tudo o mais…” Um dia nos disse Antonio Candido, e quando parece que a rua não tem mais saída, que o amanhecer continuará escondido na longa noite que insiste em se perpetuar entre nós, humanos, ávidos por liberdade, impedindo que as “crianças cantem livres sobre os muros, e ensinem sonho ao que não pode amor sem dor, e que o passado abra os presentes pro futuro, que não dormiu e preparou: o amanhecer, o amanhecer, o amanhecer……”, falou um dia Taiguara e lá fomos visitar Maria Alice Vergueiro.

Manhã chuvosa, embora alegre e muito promissora! Sim, nós do SATED-SP estávamos indo ao encontro da enigmática, da irreverente diva do Teatro Brasileiro, que mesmo longe dos palcos fez de sua residência, seu teatro!

Sabendo que o SATED-SP iria levar uma placa em sua homenagem, denominado Prêmio Lélia Abramo, acordou cedo e começou a se preparar para mais um dia de função no palco do seu cotidiano.

Não quis ajuda. Escolheu sozinha seu mais belo figurino. Um vestido vermelho que lhe caiu muito bem, condizendo com toda a sua trajetória política e artística!

Diante do espelho fez sua maquiagem para que todos os seus traços fossem marcados pelas antológicas interpretações de personagens que interpretou ao longo de sua trajetória artística como, em O Rei da Vela, Gracias Senor, A Ópera do Malandro, A Velha Dama Indigna, A Mãe Coragem, Why The Horse, entre tantos outros e que pudessem acentuar cada história de sua vida nos palcos do mundo.

Logo a catarse tomou conta de nós na platéia. As cortinas se abriram e lá entrava no palco da sua residência com seu mais belo acessório cênico, sua cadeira de rodas, ela. Ela, com aquele olhar profundo e observando cada um de nós, espectador, num silêncio cadenciado, pausado, demorado….., foram as pausas mais impactantes que pudemos observar nesses longos anos de teatro.

Jairo, Jan e Pivetti não tinham nada a dizer. Apenas interpretar aquelas pausas silenciosas. Depois do impacto, tudo o que falamos parecia patético, sem graça, insolente, um discurso pronto,  diante daquela cena que sem nenhum ensaio, se tornou para nós umas das mais belas cenas já apresentadas no nosso teatro da vida e que nenhum outro espectador irá assistir. Somos privilegiados! E como somos!

                                                                                                          Que Assim Seja!